quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O dom ou o dinheiro?

Essa semana eu estava tentando estudar para o vestibular e, como método de estudo, costumo procurar provas anteriores das respectivas universidades as quais pretendo tentar ingressar. Como a próxima prova será da PUC-RJ, estive realizando alguns testes anteriores, apenas com o objetivo de praticar e ter uma noção de como será a prova no dia. E então e deparei com o vestibular de 2007. Estava fazendo toda a parte de português - a qual continha textos de nomes grandiosos como Carlos Drummond de Andrade e Mário Andrade. Mas textos dos ditos cujos já são esperados em tais eventos. No final, cheguei à grande proposta da redação, que abordava todo um assunto muito peculiar e que envolve não apenas escritores, mas também qualquer tipo de arte mundo afora e os respectivos artistas. E apesar disso ir muito além do que a simples habilidade da escrita, estarei comentando apenas nesse universo, mas creio que esse ponto de vista possa ser aplicado em uma ampla diversidade de meios.


Não considere apenas "desenhos", mas qualquer coisa que você realmente goste.


A ideia inicial era que, após feita a minha "redação-treino", eu a transcrevesse para cá; mas não acho que ficou muito digna para isso e logo a auto-estima proibiu-me de fazer o mesmo. Mas ainda tocado pelo tema escolhido, resolvi escrever sobre o mesmo aqui, mas não na mesma estrutura apta para um concurso do gênero. Então sim, vocês repararão detalhes que são terminantemente proibidos em coisas como vestibulares e estou ciente dos mesmos, contudo não esqueçam de que aqui não é a redação em si, apenas a ideia geral da redação transcrita com palavras e estrutura diferente.





A Proposta 

Tema: Vocação ou remuneração?

Quando se escolhe uma profissão, muitos fatores são considerados, tais como: as vantagens e
desvantagens; a empregabilidade; os conselhos de pais e amigos; a vocação. Suponha que, preocupado com
essas questões, você tenha lido a crônica de Maurício de Sousa, abaixo transcrita, e o texto o tenha ajudado a
definir o seu ponto de vista sobre a questão do retorno financeiro na escolha de uma profissão.
Escreva uma carta sobre o tema da crônica, que poderia ser publicada na seção Cartas dos Leitores de
uma revista voltada para os exames vestibulares, revelando as razões para a sua escolha profissional e defendendo sua posição com argumentos bem fundamentados. O texto da carta não deve ultrapassar 20 linhas.
(Lembrando que o texto que eu logo escreverei não seguirá a proposta como é dita)




Crônica de Maurício de Sousa

“Desista! Desenho não dá futuro!”
Essa frase ecoava na minha cabeça como mil sinos batendo num funeral. 
Mas como?
E os rabiscos que eu fazia desde criança? Com o acompanhamento entusiasmado de meus pais e parentes?
E as historinhas que havia criado na escola, em gibizinhos de edição única e “consumidos” avidamente, de mão em mão, pelos colegas? E os cartazes que eu fazia para o comércio de Mogi, até que já bem remunerados? E os pôsteres que eu realizava para as alunas da Escola Normal - futuras professorinhas - sobre os mais diversos temas, até que belos e coloridos... e bem pagos.
 E minha colaboração ao Jornal de Esportes da terra, com a criação de personagens símbolos para todos os clubes esportivos da região? ... e os desenhos coloridos, bonitos (e decalcados de belas ilustrações dos desenhos de Disney) que eu fazia para impressionar minhas paquerinhas?

Ah, não!
Não podia ser verdade.
Mas ... quem falava era um profissional tão importante, tão conhecido, famoso que... não podia estar enganado.
Antes da frase de gelo eu até que estava animado. Tinha juntado vários desenhos meus, armei uma pastinha e me mandei para a redação do jornal Folha da Manhã, em São Paulo. Sabia que ali havia um departamento de arte. Tinha esperanças de conseguir nem que fosse um estagiozinho.
Fui recebido pelo chefe do departamento: ilustrador famoso. Tinha até colaborado durante muito tempo na revista mais importante da época: O Cruzeiro. Agora dirigia os destinos artísticos da Folha.
Ele tomou minha pasta das mãos, ar bonacheirão, simpático, folheou desenho, fechou a pasta, olhou pra mim e soltou a frase-bomba: “- Desista! Desenho não dá futuro!” E continuou com outros “conselhos”: “- Por que não tenta outra coisa na vida? Você é jovem. Pode escolher qualquer coisa melhor do que passar anos e anos riscando papel! Vá fazer qualquer outra coisa que dê dinheiro!”
(Publicada no site www.monica.com.br/mauricio/cronicas/cron13.htm)




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Se eu fizer uma breve análise de toda a minha vida, logo chego a conclusão que nunca tive muitas perícias. Desde cedo tentei adaptar-me ao futebol, mas não possuía uma habilidade sequer para o mesmo. Lembro-me de arriscar a natação, mas, não muito tempo depois, desistir da mesma. E com o tempo vim a praticar outras atividades, em sua maioria esportes, como o karate, a capoeira, entre outros. Cheguei a fazer musculações também e, por mais que isso não exija muito de alguma espécie de dom, eu ainda sentia que aquele tipo de coisa não era feita para mim. Cheguei a arriscar as aulas de violão e guitarra, instrumentos que eu amo e ainda persisto quando tenho o tempo e a inspiração. Também tentei aprender o design, porém, por mais que treinasse, eu simplesmente parecia não desenvolver muito. Atualmente aprendo algumas coisas, mas ainda assim não é como se eu fosse feito para aquilo.

Muitas coisas, poucas realmente me completaram. Mas desde moleque eu sempre tive a capacidade de pensar nas mais absurdas e, eu diria, inconvenientes estórias para poder usar como o enredo do qual meus "Comandos em Ação" iriam participar.  Se bem me recordo, lá para os onze anos de idade, com um computador em mãos, tentei digitar o primeiro capítulo de um desses contos aleatórios, mas não cheguei muito longe disso. Ainda assim, foi o suficiente para dar início a esta prática que procuro cultivar até os dias de hoje. O tempo passou, fui me adaptando cada vez mais com a internet e lá para os 13 ou 14 anos comecei a participar de um site onde, para a minha felicidade, havia uma categoria voltada para pessoas que gostavam de criar essas estórias. Lembro-me vagamente de participar de um concurso neste mesmo domínio e, por mais que fosse algo amador, eu conquistei o primeiro lugar no mesmo. Aquilo me deixou feliz, embora eu olhe para aquela época e visse o quanto eu era idiota (mais do que agora), sem mencionar nos inúmeros erros gramaticais/ortográficos/sintáticos que eu cometia. Mas apesar disso, eu sabia que levava jeito.

O tempo passou e naturalmente tentei melhorar o modo de escrever. Não sentia como uma obrigação, era simplesmente agradável tentar melhorar a habilidade da escrita. Procurei ler mais, me informar mais e buscar por opiniões alheias, de modo que isso pudesse contribuir para a minha evolução. Hoje estou aqui, escrevendo nesse blog, tentando ver os aspectos bons do hábito de escrever e no caminho da realização de um dos meus sonhos: publicar um livro.

Talvez muitos não venham a concordar, mas escrever é sim, e o digo com convicção, uma arte. Tão bela, pura e singela quanto uma tinta em uma tela ou o som que provém dos acordes de um violão. E assim como tais, requer um bom tempo e prática daquele que deseja dominar a arte, além da simples vontade de seguir em frente com aquilo em que você julga ser bom para que, um dia, possa realizar a sua vontade em relação a tão falada habilidade. "Mas a vida é uma caixinha de surpresas", já dizem por aí. Você cresce e tudo a sua volta parece, de alguma forma, vir a piorar cada vez mais. E então nos sentimos sufocados pela falta de tempo, já que o dia parece ter 12 horas e não 24. Obrigações, deveres, funções, compromissos e preocupações com o futuro nos cercam, não permitindo que possamos deixar a nossa vontade sequer espelhar algum desejo. Começamos a correr em meio a multidão, na pressa de garantir algo que irá nos suprir futuramente e fazer com que possamos viver bem. Viver bem até que ponto? O dinheiro trará luxo mas, a felicidade, você estará realmente a alcançando?




Este é um ponto complexo. O ideal de felicidade é algo muito relativo, mas em minhas crenças, bens materiais não podem prover essa alegria. Tudo o que lhe garantem são prazeres momentâneos até que algo pior venha e lhe ataque. A felicidade está guardada naqueles seus antigos desejos, que você guardou em uma caixa de sapato cheirando a mofo e a deixou dentro do armário, de baixo de vários outros lixos. E um dia, você resolve fazer uma limpeza no armário (que nada mais é do que uma representação de sua vida) e então encontra aquela caixa, em um estado bem pior, mas mantendo aquele desejo que agora está empoeirado e talvez até mesmo destruído. Você a abre e lamenta-se profundamente por não poder fazer as coisas que tanto queria. E a garantia disso é o silêncio que permanece no cômodo, já que a capacidade de argumentar contra os pensamentos extasiadamente dolorosos de uma vida não-robótica e onde desejos são realizados parece simplesmente não existir. 

Mas ao menos você vive bem. Quero dizer, qual a real chance daquele livro que você quer publicar tornar-se um best-seller? Até porque isto não depende somente da sua capacidade para a escrita. Se paramos para analisar, você precisa praticar o bastante esse dom e, após isso, precisa registrar o seu trabalho feito com tanto amor e carinho, para então enviá-lo para dezenas de editoras que, com alguma sorte, responderão em um prazo de cinco meses. E aí você precisará de ainda mais sorte para que ao menos uma delas atraia-se pela trama, de modo que deseje investir no seu trabalho. E após um bom tempo focado nesse mesmo trabalho, finalmente estará a venda. Parabéns,s eu sonho se realizou, teve seu livro publicado. E então a gente se faz duas perguntas: a) Você está feliz? b) Está com dinheiro para viver bem com a ajuda de venda de livros?




A princípio, a resposta da questão a) pode até vir a ser um ensurdecedor "sim". Mas ela se altera no momento em que você percebe que a questão b) é realmente complexa. E por que isso? Porque o seu livro, mesmo publicado, não significa que irá atrair a atenção de outras pessoas. Tais coisas dependem de vários outros fatores externos como por exemplo a mídia e até mesmo o bom-gosto (ou mau, quem vai saber?) das outras pessoas. São elas que lhe darão o dinheiro e, para você usufruir dos bens materiais que o mundo lhe oferece, você necessita do dinheiro, o que não é garantia em algo tão incerto quanto um trabalho que envolva este tipo de arte. Existem sim pessoas que conseguiram viver dessas formas, mas se juntarmos todos os artistas que vivem bem financeiramente com seus trabalhos, sejam eles com músicas, livros, fotos, pinturas, ou qualquer outra coisa, qual a porcentagem deles em comparação a população mundial? Eu especularia que um pouco mais do que 10% e, embora 700 milhões seja um número grande, é algo ridiculamente pequeno em comparação aos 7 bilhões de habitantes no planeta Terra. E isso sou eu sendo positivo quanto aos números, já que não tenho como base nenhum tipo de estudo para isso, não sendo nada mais do que especulações de um maluco qualquer.

Um amigo certa vez disse que não sabia se arriscaria viver da arte dele (algo em que ele realmente é bom, e digo isso pois já vi seus trabalhos) ou se não era ideal fazer prova para um concurso público qualquer que lhe garantisse um bom retorno monetário. Por um lado, viver de sua arte o deixaria realmente feliz, sentindo-se completo; apesar de que não seria certo de que ele fosse obter algum retorno e isso é algo deveras "perigoso". Mas se observarmos o outro lado da moeda, o dinheiro fará com que ele viva bem e afogando-se em bens materiais; mas o que ele realmente ama fazer não seria nada mais do que uma mera atividade sem objetivo.

É, essa é uma questão complicada.

Bem, Maurício de Sousa está aí para provar de que nada é impossível, assim como diversos outros indivíduos muito conhecidos. Mas quais as probabilidades de conseguirmos seguir o mesmo caminho que eles? Seria possível tentar viver os dois lados da moeda? O quanto devemos nos arriscar?

Claro que esse texto não tem como objetivo desanimar ninguém dos seus reais objetivos. Mas se você chegou até aqui, saiba que a real razão para falar disso é com o intuito de que todos pensem bem sobre o que querem da vida. É algo arriscado, mas não impossível. Eu, por enquanto, estou querendo tentar, mas fazendo tudo ao seu devido tempo. E você? Algum sonho que precise realizar?

Um comentário:

  1. Davi, seu texto foi motivador!
    Meu sonho é ser escritora, ou como a crônica, viver de design. Mas eu já ouvi esta asquerosa frase destruidora de sonhos: "Isso não tem futuro!".
    Sim, o caminho é árduo e não devemos desistir só porque existem obstáculos. Por mais que segui outro rumo profissional - a informática, a qual também é minha pixão - não desisti de meus sonhos. Arquivei-os com carinho, na gaveta de futuros projetos e hoje estou relendo e tentando aplicá-los à minha vida.
    Acho que escolhi o momento certo, estou madura o suficiente para aguentar a longa estrada até a publicação. E mesmo que eu não tenha tanta aceitação no mercado, já me sentirei feliz apenas por concluir esse sonho.
    Acredito que antes de sucesso e dinheiro, é a nossa realização pessoal. Mas também devemos fazer tudo com os pés no chão e com apoio de pessoas maravilhosas, que no meu caso é minha família e o grupo Aliança Pró-Originais.
    Obrigada por este texto incrível!

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